Série: 5 filmes – Takeshi Kitano

Beat Takeshi, como é mais conhecido no Japão, não é apenas um cineasta sensível e corajoso. Seus conterrâneos, aliás, o conhecem mesmo como apresentador de TV e comediante, além de ator, cantor, poeta e pintor. Kitano consegue, de forma sutil – pelo menos na maioria dos casos -, incorporar suas várias facetas em seus filmes.

Em Hana-Bi – Fogos de Artifício (1997), por exemplo, as pinturas de Horibe (Ren Osugi) são de autoria de Kitano. Em Takeshis’ (2005), ele interpreta dois atores: um bem-sucedido, Beat Takeshi, e um iniciante, Mr. Kitano.  Em Glória ao Cineasta! (Kantoku Banzai!, 2007), Kitano interpreta um cineasta com bloqueio criativo. Por sinal, Takeshis’, Glória ao Cineasta! e Aquiles e A Tartaruga (Akiresu to Kame, 2008) são uma trilogia autobiográfica surreal.

Embora seja recorrente, a violência extrema não está presente em todos os seus filmes. Em Dolls (Doruzu, 2002), por exemplo, o amor é retratado de forma belamente trágica, e em Verão Feliz (Kikujiro no Natsu, 1999), a amizade é representada com extrema sensibilidade. Mas não raramente seus personagens são mafiosos, e portanto há muitas armas – às vezes espadas – e sangue. O humor também é marca registrada de Kitano, podendo ser mais sutil ou escrachado, como em Glória ao Cineasta!

Como ator, ele é mais conhecido por aqui por seu trabalho em Batalha Real (Batoru Rowaiaru, 2000), adaptação do romance homônimo de 1996, que foi também adaptado para uma série de mangá, em 2000. No filme, Kitano interpreta um professor de ensino médio que lidera um jogo onde os estudantes deverão batalhar entre si até que reste apenas um vencedor: o que sobreviver.

5. GLÓRIA AO CINEASTA! (Kantoku Banzai!, 2007)

Kitano e seu dublê, em Glória ao Cineasta!

No segundo filme de sua trilogia autobiográfica, Kitano apresenta-nos o dilema de escrever e dirigir um novo filme que fuja do estereótipo kitanense. Assim, suas tentativas frustradas vão do terror asiático que inspirou remakes norte-americanos aos montes na última década, ao drama urbano familiar a la Ozu, passando por filmes de samurai, satirizando a si próprio – em Zatoichi (2003). À medida que se compreende o nível nonsense de Glória, passa-se a apreciar mais o filme e a ousadia de Kitano, que não economiza no esdrúxulo, e entrega um filme irregular, mas muito interessante, principalmente para os fãs.

4. DOLLS (2002)

Miho Kanno como Sawako e Hidetoshi Nishijima como Matsumoto, em Dolls

Em Dolls três histórias de amor correm paralelamente. Na história central, um jovem ambicioso termina o noivado para casar-se com a filha do presidente da empresa onde trabalha. A jovem, desiludida, tenta o suicídio e passa a viver de forma quase vegetativa. Consumido pela culpa, o jovem a resgata do hospital para fugirem. Na segunda, um jovem, apaixonado por uma popstar, cega a si próprio quando seu ídolo sofre um acidente de carro que a desfigura. Na terceira, um membro aposentado da Yakuza, passa a revisitar um parque onde costumava se encontrar com uma antiga namorada que, para sua surpresa, visita o parque desde o fim do relacionamento, com a esperança de um dia encontrá-lo novamente. Apesar da ausência de mafiosos e espadas, o filme é considerado por Kitano o seu filme mais violento. Para ele, as ações que as pessoas são capazes de tomar por amor, bem como a destruição que esse sentimento pode causar são tão ou mais violentos que as torturas, lutas e sangue representados em filmes como Adrenalina Máxima (Sonatine, 1993) e Brother (2000).

3. ZATOICHI (2003)

Kitano como Zatoichi/Ichi, em Zatoichi

Zatoichi é um espadachim cego que, ao chegar a uma vila dominada pelos mafiosos Ginzo, passa a relacionar-se com curiosos personagens, dos quais se destacam as irmãs que buscam vingar o massacre que matou toda a sua família. Zatoichi mescla bem momentos trágicos e cômicos, bem como cenas de luta super sanguinolentas com momentos sensíveis. Tecnicamente, destaco a trilha sonora magnífica de Keiichi Suzuki

2. VERÃO FELIZ (KIKUJIRO NO NATSU, 1999) 

Kitano como Kikujiro e Yusuke Sukiguchi como Masao, em Verão Feliz

Em Verão Feliz, o menino Masao parte em busca da mãe que o abandonou e no caminho conhece Kikujiro (Kitano), que é forçado por sua esposa a seguir viagem com o menino. A mãe de Masao é encontrada vivendo com outra família, e para poupar o sofrimento de Masao, Kikujiro o convence de que ela não estava onde ele a achou. Na viagem de volta, Kikujiro fará de tudo para compensar a decepção do menino. O tema delicado é tratado no filme de forma simples, emotiva, e às vezes até engraçado. Kitano desvencilha-se da temática violenta usual e conta uma quase-fábula com sensibilidade e primor.

1. HANA-BI – FOGOS DE ARTIFÍCIO (HANA-BI), 1997

Kitano como Yoshitaka Nishi, em Hana-Bi

O ex-parceiro do detetive aposentado Nishi (Kitano) está numa cadeira de rodas após um acidente em serviço e sua esposa está morrendo de leucemia. Nesse contexto trágico, Nishi vai buscar uma forma de viver na paz que nunca teve, além de ter de lidar com a dívida que fez com a máfia para pagar os tratamentos da esposa. Hana-Bi é, para mim, a obra-prima de Kitano. Sem o rebuscamento de Dolls, o filme já apresenta as metáfora visuais tão presentes em sua obra, mas de forma mais crua. Essa crueza é percebida também na fotografia e na direção de arte, e dá espaço para o ótimo roteiro brilhar, ao lado de excelentes atuações – com destaque para o próprio Kitano – e da direção impecável.

E você, que filmes de Kitano fazem o seu top 5?

7 Respostas para “Série: 5 filmes – Takeshi Kitano

  1. Meu coração ficou pequenino ao lembrar de DOLLS (2002). Eita filmaço! Gosto bastante dele. Em DVD só tenho Brother – A Máfia Japonesa Yakuza em Los Angeles. Adorei o post!

  2. Meu preferido é Dolls mesmo. Em segundo lugar empata Hanna-BI e Zatoichi. Mas não assisti nenhum da trilogia biográfica e também o Verão Feliz…

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