15 de novembro: dia de assistir a 15 filmes brasileiros

No próximo dia 15 de novembro, a Proclamação da República Brasileira completará 123 anos.

Não sou nacionalista, tampouco patriota, e muito menos ufanista. Mas acho importante prestigiar a cultura e a arte brasileiras, e isso inclui assistir a filmes feitos em terras tupiniquins.

A chamada Retomada do Cinema Brasileiro iniciou-se em 1995, sendo o marco do início do período o filme Carlota Joaquina – Princesa do Brasil, de Carla Camurati, que foi parcialmente produzido com verbas provenientes do Prêmio Resgate, criado pelo Ministério da Cultura do governo Itamar Franco, em dezembro de 1992, e predecessor da Lei do Audiovisual, aprovada no governo Fernando Henrique Cardoso.

Na época, o Cinema Brasileiro ainda era visto pelo grande público com preconceito. Por ter passado por um período de quase vinte anos de crise, a qualidade das produções ainda era bastante questionada, e a publicidade pífia que os filmes ganhavam nesse início de Retomada não incentivava o público.

Hoje, dezessete anos depois, a produção do Cinema Brasileiro ainda enfrenta problemas, mas cresceu imensamente em relação àquele período. A formação de uma indústria – como tentou-se na década de 1950, com a Companhia Cinematográfica Vera Cruz – nunca aconteceu e os filmes dependem basicamente de verba pública para acontecerem. Entretanto, podemos destacar alguns avanços alcançados nos últimos dez anos: aumento da produção e maiores investimentos publicitários, maiores bilheterias, diversidade de gêneros e frequente reconhecimento internacional.

Estúdio da Vera Cruz, na década de 50

A seguir, uma lista de filmes da Retomada e Pós-Retomada; uma lista de sugestões; uma lista de favoritos.

15. MADAME SATà(2002)

Lázaro Ramos, como Madame Satã

Madame Satã é o longa-metragem de estreia do diretor Karim Aïnouz, e apresenta João Francisco dos Santos, figura polêmica e emblemática da vida noturna marginal e carioca da primeira metade do século XX, em sua trajetória rumo ao sucesso como transformista da Lapa, reduto boêmio da capital do Rio de Janeiro. Analfabeto, pobre e homossexual, João Francisco, ou Madame Satã, como ficou conhecido, foi preso diversas vezes, principalmente por desacato a autoridade, em tentativas de defesa de oprimidos mendigos, prostitutas, travestis e negros.

Madame Satã é interpretado no filme por Lázaro Ramos, que recebeu diversos prêmios pelo papel, e por esse filme, consagrou-se no cinema. Karim dirigiu na sequência o ótimo O Céu de Suely (2006), que não entrou na lista por muito pouco.

14. CIDADE BAIXA (2005)

Wagner Moura como Naldinho, Alice Braga como Karinna e Lázaro Ramos como Deco, em Cidade Baixa

Cidade Baixa é também um longa de estreia. Antes, o diretor Sérgio Machado trabalhou como assistente de direção de Walter Salles em O Primeiro Dia, Central do Brasil e Abril Despedaçado, e como co-roteirista em Madame Satã, Abril Despedaçado e no próprio Cidade Baixa.

Naldinho (Wagner Moura) e Deco (Lázaro Ramos) são amigos de infância que ganham a vida fazendo fretes e aplicando pequenos golpes. Numa ida à Cidade Baixa de Salvador, conhecem Karinna (Alice Braga), uma prostituta que almeja fazer a vida casando-se com um estrangeiro endinheirado. Uma relação amorosa entre os três se inicia, o que abalará a amizade de Naldinho e Deco e mudará os rumos de suas vidas por definitivo.

O filme, centrado no relacionamento dos três protagonistas, lembra a estrutura de um filme europeu, e a primorosa atuação do trio torna o filme ainda mais interessante. Sérgio acertou em cheio no casting e na direção de atores, o que rendeu ao filme diversos prêmios, dentre eles, o Prix Un Certain Regard, em Cannes, para Sérgio.

13. O AUTO DA COMPADECIDA (2000)

Selton Mello como Chicó e Matheus Nachtergaele como João Grilo, em O Auto da Compadecida

O Auto da Compadecida foi escrito originalmente por Ariano Suassuna para o teatro. Posteriormente, foi adaptado para o formato de minissérie por Guel Arraes, Adriana Falcão e João Falcão. Da minissérie, surgiu o filme, onde foi eliminada uma hora de material para que se encaixasse no formato.

Chicó (Selton Mello) e João Grilo (Matheus Nachtergaele) são dois sujeitos muito pobres, que sobrevivem com alguns pequenos negócios e saques pelo sertão nordestino, na década de 1930. Num de seus golpes, na Vila de Taperoá, no sertão paraibano, envolvem-se com o cangaceiro Severino de Aracaju (Marco Nanini), o que mudará seus destinos irremediavelmente. Chicó e João Grilo, apesar de golpistas, malandros e mentirosos, conquistam-nos com sua esperteza e forma como lidam com suas vidas miseráveis, sempre positivamente, com perseverança e humor. O filme mescla bem a comédia e o drama com toques de romance e encanta por sua linguagem simples, acessível e ao mesmo tempo elaborada. Brindam-nos com seus incontestáveis talentos, além dos já citados, Fernanda Montenegro, Luís Melo, Lima Duarte, Rogério Cardoso, Denise Fraga, Diogo Vilela e Paulo Goulart.

12. SANEAMENTO BÁSICO, O FILME (2007)

Lázaro Ramos como Zico, Fernanda Torres como Marina e Wagner Moura como Joaquim, em Saneamento Básico, o Filme

Jorge Furtado é o roteirista e diretor dos excelentes e premiados curtas-metragens O Dia em Que Dorival Encarou a Guarda (1986), Barbosa (1988) Ilha das Flores (1989) e O Sanduíche (2000). Em 2002 dirigiu seu primeiro longa o bom Houve Uma Vez Dois Verões, e Saneamento Básico, o Filme é o seu quarto longa, que veio cinco anos depois.

Em Saneamento Básico, o Filme, Marina (Fernanda Torres) e Joaquim (Wagner Moura) lutam pela construção de uma fossa para tratamento de esgoto na pequena vila em que vivem, localizada na Serra Gaúcha. A prefeitura da cidade indefere o projeto, alegando falta de verbas para a obra. Curiosamente, há uma verba de 10 mil reais disponível para a produção de um filme, e então Marina e Joaquim decidem escrever um roteiro e filmá-lo com parte dessa verba, para que o restante possa ser encaminhado para a construção da fossa de forma particular.

O que mais me agrada no filme é a brincadeira metalinguística, que mostra-se ao público (minimamente conhecedor do processo de produção cinematográfica) como uma grande piada interna, entre si e o diretor. Deparamo-nos com situações típicas – e hilárias – de novatos com a linguagem cinematográfica e seu processo de produção, além das ótimas piadas do roteiro de Jorge, proferidas com entusiasmo e competência por Fernanda Torres, Wagner Moura, Camila Pitanga, Bruno Garcia, Lázaro Ramos, Paulo José e Tonico Pereira.

11. DIÁRIOS DE MOTOCICLETA (2004)

Rodrigo de la Serna (ao fundo) como Alberto Granado e Gael García Bernal (à frente) como Ernesto Guevara, em Diários de Motocicleta

Diários de Motocicleta é o quinto longa de Walter Salles, e o seu primeiro internacional – a produção se dividiu entre Brasil, Argentina, Chile, Peru, Estados Unidos, Alemanha, França e Reino Unido. Trata-se de um road movie onde os personagens principais, os amigos e ainda estudantes Ernesto Guevara e Alberto Granado, decidem conhecer parte da América do Sul a bordo de uma moto. No contexto do filme, a viagem foi crucial para o futuro militante de ambos, já que nela conhecem povos muito pobres aos quais são oferecidas precárias condições de vida.

Para mim, Diários de Motocicleta figura não só no top filmes brasileiros, mas no top road movies. Tecnicamente é uma das melhores realizações de Walter Salles, com destaque para a fotografia e a trilha sonora – ambas premiadas, em Cannes e com um Oscar, respectivamente. De seus filmes internacionais, certamente é o melhor.

10. ÔNIBUS 174 (2002)

Sandro Barbosa do Nascimento, em Ônibus 174

Por favor, não confundam esse documentário de José Padilha com o longa de ficção dirigido por Bruno Barreto, Última Parada 174, um filme apelativo e desnecessário. Ao contrário, o documentário de Padilha é obrigatório. Ele narra a história de Sandro Barbosa do Nascimento, um menino que, abandonado pelo pai antes de nascer e testemunha do assassinato da mãe, aos seis anos de idade, tornou-se menino de rua e sobreviveu ao evento que ficou conhecido como Chacina da Candelária. Sua história culmina no dia 12 de junho de 2000, quando sequestrou o ônibus 174, na cidade do Rio de Janeiro. O sequestro recebeu extensa cobertura jornalística e quase todos os reféns escaparam com vida, com exceção de Geisa Firmo Gonçalves, que serviu de escudo para Sandro quando ele decidiu se entregar, e foi morta pelos policiais que tentaram atingir Sandro.

Padilha consegue contar uma história tocante da forma mais imparcial possível. É claro que, como todo documentário com esse tipo de temática, há sempre parcialidade, afinal deve-se ter uma tese para poder desenvolver o assunto. Mas admiro a forma como ele apresenta os fatos: friamente, mas sempre causando impacto no espectador na medida certa.

9. CHEGA DE SAUDADE (2007)

Maria Flor como Bel e Stepan Nercessian como Eudes, em Chega de Saudade

Chega de Saudade (2007) é o segundo longa de Laís Bodanzky e, a meu ver, um filme mais maduro que Bicho de Sete Cabeças (2001) – onde as intenções estavam explícitas, mas ainda faltava uma certa lapidação – e com mais alma que As Melhores Coisas do Mundo (2010) – seu terceiro longa, apenas mediano.

O filme se passa quase em tempo real, em uma noite de baile, num tradicional clube de dança paulistano. Nele, há cinco núcleos de personagens onde as histórias se desenvolvem, numa forma meio Robert Altman de ser. Além de curiosos personagens e tocantes histórias, o que mais gosto no filme é a exímia fotografia de Walter Carvalho, que se movimenta pela pista de dança e por entre os personagens como se fosse invisível, e tornando nosso contato com eles muito mais próximo e “verdadeiro”.

8. O ANO EM QUE MEUS PAIS SAÍRAM DE FÉRIAS (2006)

Eduardo Moreira como Daniel, Simone Spoladore como Bia e Michel Joelsas como Mauro, em O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias

Cao Hamburguer, conhecido por seu trabalho em programas infantis como Os Urbanóides (1991), Disney Club (1996), Castelo Rá-Tim-Bum (1994-1997) e Um Menino Muito Maluquinho (2006), depois de dirigir o longa Castelo Rá-Tim-Bum – O Filme (1999), baseado no programa de TV, dirigiu o que poderia ser considerado o seu primeiro longa adulto, O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias que, apesar do elenco principal infantil, trata das acontecimentos na vida de um menino separado de seus pais no contexto da ditadura militar de forma bastante madura, e nunca com o intuito de atingir exclusivamente o público infantil.

O roteiro, escrito por Cao, Adriana Falcão, Claudio Galperin, Bráulio Mantovani e Anna Muylaert, trata com delicadeza o amadurecimento forçado pelo qual Mauro (Michel Joelsas) precisa passar, no ano em que seus pais precisam fugir da ditadura militar. Ele é deixado com seu avô, que inesperadamente falece, deixando-o só, até que um vizinho, Shlomo (Germano Haiut), passa a acolhê-lo. A difícil convivência dos dois, levando em consideração a barreira cultural-religiosa e etária é o cerne do filme, que acompanha também as aventuras de Mauro como goleiro de um time de futebol em pleno ano de Copa do Mundo.

O equilíbrio de momentos mais trágicos com situações leves é o grande trunfo do filme que, apesar de abordar tantas questões – religião, futebol, política, infância – consegue manter-se sempre interessante e pouco convencional. Do elenco, destaco o trabalho difícil e sutil de Michel, como Mauro, e de Daniela Piepszyk, como Hanna.

7. CINEMA, ASPIRINAS E URUBUS (2005)

Peter Ketnath como Johann e João Miguel como Ranulpho, em Cinema, Aspirinas e Urubus

Marcelo Gomes estreou como diretor em longas com Cinema, Aspirinas e Urubus – ele é também um dos roteiristas de Madame Satã – e não decepcionou. O filme de premissa simples – um alemão foragido da Segunda Guerra Mundial viaja pelo interior do Nordeste brasileiro projetando filmes e vendendo aspirinas, e conhece, em suas andanças, um nordestino que passa a acompanhá-lo como seu ajudante – é bem executado, com direção firme, belas atuações, com destaque para o ótimo João Miguel, e fotografia espetacular de Mauro Pinheiro Junior.

Essencialmente, trata da amizade entre o alemão pacífico Johann e o nordestino preconceituoso Ranulpho e suas diferenças e semelhanças, mas utiliza como pano de fundo um sertão pobre e humilde, onde somente em sonhos filmes poderiam ser projetados em praça pública, que justamente é a metáfora que traduz a relação dos dois homens. Ao mesmo tempo, enquanto Ranulpho deseja fugir, Johann está satisfeito onde está, independentemente das diferenças culturais e consequentes dificuldades. Principalmente, passa-se numa época onde alemães, aspirinas e cinema nunca chegariam pelas vias normais a uma região como essa, o que torna a história não mais verossímil, mas mais encantadora.

6. O HOMEM QUE COPIAVA (2003)

Leandra Leal como Sílvia e Lázaro Ramos como André, em O Homem que Copiava

Um dos poucos diretores a figurarem nessa lista de forma dupla (são quatro, no total, para ser exata), Jorge Furtado é certamente um dos que considero mais interessantes da atual geração de cineastas brasileiros. O Homem que Copiava é apenas seu segundo longa-metragem, e no entanto, na minha opinião, sua obra-prima até hoje.

O homem do título – que, diga-se de passagem, dá o tom do filme de forma perfeita – é André, que realmente copia, ou copiava. Operando uma copiadora e sem muitas perspectivas, André aproveita para absorver o que pode dos livros que copia para os clientes, mas as emoções de sua vida não passam disso. Até que conhece Sílvia, uma garota que vive no prédio em frente ao seu. Muito tímido para se aproximar, André passa o tempo como voyeur, mas nunca de forma maliciosa. A partir daí, a trama toma ares de romance, com toques de comédia, cujos maiores responsáveis são Cardoso (Pedro Cardoso) e Marinês (Luana Piovani) e suspense policial, com direito a plano diabólico, estelionato e explosão. Furtado passeia por todos os gêneros com bastante fluência e desenvoltura, e entrega um filme comercialmente acessível, mas de altíssimo nível. Dou destaque ao texto narrativo – o filme é narrado pelo protagonista André -, que nos auxilia no entendimento tanto do caráter do personagem e suas intenções, quanto no entendimento da própria trama, cheia de segundas intenções e reviravoltas.

5. EDIFÍCIO MASTER (2002)

Moradora do Edifício Master

Edifício Master é daqueles filmes que não podem ser explicados; é preciso assisti-lo. Para ajudar – ou não, depende do ponto de vista – não achei trailer nenhum no YouTube (apesar de ter encontrado uns trechos), então só lhe resta assistir!

Eduardo Coutinho é um dos grandes documentaristas – e cineastas – do Brasil, e por isso esse não será o único filme de sua autoria nessa lista. De sua primeira fase podemos destacar Cabra Marcado para Morrer (1985), O Fio da Memória (1991) e Babilônia 2000 (1999), os quais me envergonho de assumir que nunca assisti. Edifício Master foi meu primeiro contato com o diretor, e devo enfatizar que poucas vezes na vida me impressionei tanto com um diretor inédito. Diferente de qualquer documentário com que tive contato, não há tese, apenas relatos aparentemente aleatórios, unidos apenas pelo fato de os entrevistados serem todos moradores (de um total aproximado de 500) de um mesmo prédio, localizado no bairro de Copacabana, na cidade do Rio de Janeiro. A diversidade de faixa etária e classe social dada pela enormidade do edifício e por sua localização é apenas um dos pontos interessantes do grupo. Aliadas a essa diversidade, suas diferentes origens tornam-o interessantemente heterogêneo e complexo. O talento inexplicável de Coutinho para extrair de seus entrevistados as mais íntimas e curiosas histórias é o trunfo do filme. A partir dessa habilidade, as histórias contam-se sozinhas, e o filme completa-se, cheio de emoção.

4. TROPA DE ELITE (2007) E TROPA DE ELITE 2 – O INIMIGO AGORA É OUTRO (2012)

Wagner Moura como Capitão Nascimento (Tropa de Elite) e Tenente Coronel Nascimento (Tropa de Elite 2)

Tropa de Elite é o segundo longa do diretor do já citado Ônibus 174. Em seu primeiro filme de ficção, Padilha conseguiu levantar três grandes polêmicas, que, de uma forma ou de outra, contribuíram para o sucesso comercial do filme. O primeiro, involuntário, foi o fato de o filme ter vazado e sido assistido por, estima-se, mais de 11 milhões de espectadores. Se isso, à princípio, era uma preocupação em relação à performance do filme nas telonas, na semana de estreia um alívio se instaurou, quando foi constatado que o filme tinha atingido o primeiro lugar. Em segundo lugar vieram as críticas em relação à forma como os protagonistas do filme utilizavam-se de tortura para atingir seus objetivos, e mesmo assim eram retratados como heróis – ao menos do ponto de vista dos críticos. Em terceiro lugar, incendiaram-se as discussões a respeito da responsabilização dos usuários de drogas em relação à criminalidade. Todos esses fatores já foram extensivamente discutidos, e prefiro me abster, nesse momento.

Tropa de Elite 2 chegou aos cinemas três anos depois, ampliando as fronteiras onde se desenvolve o primeiro filmes. A crítica passa do âmbito “polícia corrupta do Rio de Janeiro” para o âmbito “políticos corruptos de Brasília”, o chamado “sistema”. Em ambos o protagonista é o mesmo, só muda a patente; de Capitão Nascimento, para Tenente Coronel e Subsecretário de Inteligência da Secretaria Estadual de Segurança Pública do Rio de Janeiro. Agora, inserido no sistema, Nascimento terá a oportunidade de buscar soluções para os problemas de segurança, certo? Se você não foi um dos 11 milhões de espectadores que ajudou o filme e roubar o top do ranking de público de filmes brasileiro, aproveite e veja os dois de uma vez.

Entendo que em ambos o uso da linguagem cinematográfica seja feito de modo louvável. Nunca inovador, mas sempre competente, de forma que entendemos o apelo ao público do qual José Padilha parece entender bem, porém compreendemos também que ele nunca pode ser primordial. Assim, um time de respeito fez o filme tomar forma: Lula Carvalho na fotografia, Tulé Peak na direção de arte do primeiro filme, e Thiago Marques na direção de arte do segundo, e Daniel Rezende na montagem.

Sobre agregar os dois filmes nessa lista, acredito que ambos se complementam, portanto não podem ser julgados separadamente.

3. O INVASOR (2002)

Paulo Miklos como Anísio, em O Invasor

Seguindo a linha de seus dois primeiros longas, Beto Brant dá a O Invasor uma roupagem de trhiller, mas de um jeito bastante próprio, com características bem brasileiras, provando que há lugar para diferentes gêneros por aqui – e para isso não precisamos de Assaltos a Bancos Centrais da vida.

Paulo Miklos, vocalista do Titãs, estreou como ator na pele do matador de aluguel Anísio, que é contratado pelos sócios Ivan (Marco Ricca) e Giba (Alexandre Borges) para matar seu sócio majoritário. Quando aparentemente seus problemas parecem solucionados, Anísio passa a chantageá-los. Adaptado do romance homônimo de Marçal Aquino, a trama inicial, apesar de simples, dá espaço para um desenvolvimento gradualmente sufocante e imprevisível. As atuações de Marco, Alexandre e Paulo estão exatas, e a direção de Beto, impecável.

2. JOGO DE CENA (2007)

Fernanda Torres, em Jogo de Cena

É difícil classificar Jogo de Cena; em parte é documentário, já que há relatos reais, como em todos os filmes de Coutinho; em parte é ficção porque há atrizes e encenação. O melhor de Jogo de Cena é justamente essa justaposição de formatos. Além das costumeiras entrevistas cheias de histórias comoventes e curiosas, há as surpresas ao saber que algumas delas estão apenas sendo encenadas, e como é fácil usar um ator e uma câmera – nas mãos de um competente diretor – para enganar o espectador. Afinal de contas, não é a isso que se resume o cinema?

Pouco posso dizer sem entregar o melhor que o filme tem a oferecer, portanto, se você assistiu, sabe do que estou falando. Se não, é uma boa oportunidade para entender o que estou querendo dizer.

1. CENTRAL DO BRASIL (1998)

Vinícius de Oliveira como Josué e Fernanda Montenegro como Dora, em Central do Brasil

A amizade entre a desiludida e solitária Dora (Fernanda Montenegro) e o esperançoso e persistente Josué (Vinícius de Oliveira) é das coisas mais bonitas que já vi no cinema. A diferença etária e a disparidade de objetivos alimentam uma separação que nunca acontece – pelo menos não até que tudo esteja encaminhado – e é justamente isso que faz Dora desamargurar um pouco o coração e buscar uma solução para o destino iminente de Josué.

Trata-se de um road movie (outro), onde Josué e Dora partem em busca do pai de Josué, no meio do Nordeste, e pela viagem descobrem carinho um pelo outro, que se sobreporá às intempéries pelas quais passarão. Dora é uma professor aposentada que vive de escrever cartas numa estação de trem da cidade do Rio de Janeiro para pessoas analfabetas. Josué é um menino que ela conhece quando escreve uma carta de sua mãe para seu pai. Dora testemunha a morte repentina da mãe de Josué e, comovida, passa a ajudar o menino. Acreditando que a única solução seria encontrar o seu pai, Dora decide partir com Josué rumo ao Nordeste.

Belissimamente filmado, impressiono-me ainda com a forma como o filme é comovente e democrático; não há quem não se identifique. Destaco, tecnicamente, a trilha sonora que sempre me faz chorar de Jacques Morelembaum e Antonio Pinto.

E você? Quais são os seus filmes brasileiros favoritos?

5 Respostas para “15 de novembro: dia de assistir a 15 filmes brasileiros

  1. Central do Brasil também está entre os meus favoritos. O engraçado é que o documentário que foi base pra ele, “Socorro Nobre” é sobre a vida de uma presidiária da minha cidade, Itabuna-BA, que cumpria pena em Salvador. Eu assisti numa exibição na universidade em que eu estudava, e própria Socorro esteve presente. O crime que ela cometeu ficou muito famoso por lá, e eu me lembro bem das reações indignadas de várias pessoas com o que seria a “glamourização” da vida dela.

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